sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A dor da vida, de uma vida sem dor

Vincent Willem van Gogh foi um pintor pós-impressionista neerlandês, frequentemente considerado um dos maiores de todos os tempos Sua vida foi marcada por fracassos. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência ou até mesmo manter contatos sociais. Aos 37 anos, sucumbiu a uma doença mental, cometendo suicídio. A sua fama póstuma cresceu especialmente após a exibição das suas telas em Paris, a 17 de Março de 1901.
Van Gogh é considerado um dos pioneiros na ligação das tendências impressionistas com as aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas frentes da arte do século XIX, como por exemplo o expressionismo, o fauvismo e o abstraccionismo.
O Museu Van Gogh em Amsterdã é dedicado aos seus trabalhos e aos dos seus contemporâneos.
(Fonte: Wikipedia)

A dor da vida, de uma vida sem dor. Se a vida não dói, por que há dor? De onde veio, aonde vai parar, qual e quê motivo...Se a vida a vida dói, por quê para alguns ela não dói? Por quê o leve para uns é pesado e o pesado para uns é leve? Por certo tipos de sacos de areia são fáceis de levar, e aqueles tão medíocres são os mais doídos, cortantes e desesperadores? Por quê, embora haja um futuro brilhante nos esperando, enxerga-se um futuro despedaçado, sem pé nem cabeça...A dor de sorrir. A dor de acordar. A vontade de dormir sempre. Pois quando dormimos, a vida dá um "tempo". A não ser os pesadelos...Mas prefiro os pesadelos do que as crises cortantes da dor repentina, que surge quando estou bem, alegre, faminta e até comendo doces e comida apetitosas sem pensamentos sombrios. A dor da vida, de uma vida sem nenhuma dor aparente, e o peso da vida de uma vida leve. 
Sem entender, sem saber, sem saber se já nasci assim, ou se é uma peste que contraí. A cama é o lugar mais    plácido do mundo, acompanhado de um sono profundo. Medo, do escuro, do inseguro, dos fantasmas e da minha voz, parafraseando Vanessa da Mata. E ainda aproveitando Cazuza, o tempo não pára.
Por isso, arranco a corda do meu coração e da minha alma, e me liberto, me desnudo, me corto, arranco todos os meus cabelos se preciso, para nunca mais sair sentir a dor da vida de uma vida sem dor.



Vincent van Gogh, que sofria de depressão e cometeu suicídio, pintou esse quadro em 1890 de um homem que emblematiza o desespero e falta de esperança sentida na depressão.



"Sou talvez a visão que alguém sonhou
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou."
Florbela Espanca



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Generosos com os outros, só se somos conosco.

"Ser mulher é para Sabina uma condição que ela não escolheu. Aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou como fracasso. Diante de uma condição que nos é imposta, é preciso, pensa Sabina, encontrar a atitude certa. Parecia-lhe tão absurdo insurgir-se contra o fato de ter nascido mulher quanto glorificar-se disso." - A Insustentável Leveza do Ser (Millan Kundera)

Percebo isso quando me vejo fazendo/agindo como eu gostaria/faria. Ser mulher, algumas vezes, nos impõe algo de que devemos fazer sempre algo para agradar alguém ou para aparentarmos aceitos.
Eu prefiro nadar contra essa maré, que creio eu, não exista tanto assim. Sendo que nadar contra maré, ás vezes, muita gente acha que é ser "polêmico" - aí, cabe ao leitor julgar o que é polêmico ou não.
Um absurdo uma mulher ir a um bar sozinha e tomar uma cerveja? Um absurdo uma mulher ir a um museu no Centro do Rio pela tarde? Um absurdo tomar um café, ir ao cinema ou até mesmo comer pipoca aos domingos assistindo filme? 
"Coitada...olha..sozinha." - olhar de um casal piedoso na moça em um shopping. Casal esse que vive de aparências, pois por trás daquela blusa polo e do saltinho da moça há um mar de traições, desrespeitos e enganos.
"Não é possível que uma moça esteja sozinha!" - homem achando que mulher anda com perna de homem alheio.
"Não é possível que não esteja saindo com ninguém!" - amiga revoltada, achando que é necessário estar de caso com alguém para ser feliz.

Sou feliz com minha companhia. Desde muito novinha, eu gostava de ir à lugares e fazer coisas sozinha, que convencionalmente meninas da minha idade iam com amigas. Pai dava um dinheirinho a mais para comprar um tênis e uma roupinha a mais? Lá ia Kassia, com 14 anos, sozinha e curtindo sua companhia.
"Você vai sozinha?"
"Você moraria sozinha?"
"Ah, não fico em casa sozinha!"
"Você almoça sozinha?"
Por tempos, confesso que me vi como um bicho estranho. Mas hoje, sei que tenho a virtude de gostar de mim e do meu respirar, tomar um café imersa em meus pensamentos, chegar em casa do trabalho e ler um livro à meia luz da luminária e fazer compras sozinha. Sim, sou rodeada de bons amigos, daqueles que enxugam minhas lágrimas quando vemos monstros que nos deixam com medo. Eles estão sempre comigo, quando podem e quando podemos e eu com eles. Mas devo ser agradável a eles por quê, primeiro, eu soube e sei agradar a mim mesma. Tento ser generosa comigo, para que sejam generosos comigo. Se faço tudo que o meu eu gosta, com certeza serei a pessoa mais agradável desse mundo aos meus amigos e entes amados.

"Viver, intensamente, é você chorar, rir, sofrer, participar das coisas, achar a verdade nas coisas que faz. Encontrar em cada gesto da vida o sentido exato para que acredite nele e o sinta intensamente."
Leila Diniz


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Carta às Flores




Sei bem que cheguei em 1987, quando vocês estavam no auge dos seus 5 e 7 anos e para confundir a cabeça de vocês. Mãe teve que se dobrar em três, vovó e vovô haviam partido para Portugal e de lá não voltaram mais.
Sei bem que perturbei o sono de vocês com meu choro expressando fome e fraldas sujas. Sei que em alguns momentos pai e mãe deram mais atenção ao bebê. Sei que vocês me fizeram de boneca, me ensinaram palavras, rabisquei capas de discos de vinis da Xuxa e destruí milhões de bonecas. Desde pequena era assim: não quero, não gosto, não tá direito.
Sei bem que quando fui crescendo, fui birrenta, queria ver o canal que eu queria, o chocolate mais gostoso da caixa de bombons que mãe abria pra dividir entre a gente e chorava de medo quando vocês demoravam para me buscar na escola.
Sei bem que, empatei os seus primeiros namoricos, fazendo perguntas insolentes, ficando no computador por horas e não deixando vocês a vontade para falar de coisas que uma pré adolescente não poderia/devia ouvir.
Sei bem que, achavam minhas roupas esquisitas, meu jeito estranho, minhas manias estranhas de magreza, estranhavam meus estudos exaustantes em inglês e que a ideia maluca de que "jamais teria um namorado, pra quê, eu hein!"
Sei que fiz dezoito e me achei mulher, maior, suficiente e madura. Fiz o que quis, nao ouvi, gritei, rebati. Fiz vocês chorarem. Fiz vocês sorrirem. E sim, voltamos a nos embolar em uma cama só, uma acordando a outra com montinho.

Sei bem que hoje, ainda sou aquela que vocês nunca devem esquecer o choro de fome, fralda suja e cólica. Sei bem também que hoje, sou uma mulher que vocês se orgulham e dou desgosto. Sou a que surpreende com ideia, moda e meta maluca. Sim, eu tive namorado. Sim, eu sou esquisita, ainda. Sim, obrigada por falarem que eu sou a melhor em muitas coisas. Muitas. Por enxugarem minhas lágrimas e dizerem que sim, eu posso. Não, não vou cair. Obrigada serem meu colchão protetor. Meu banho morno, meu chá, minha cama aquecida, por serem além de irmãs do mesmo sangue, serem a extensão de mãe.

"Pra não dizer que não falei das flores", às minhas Flores: Hosana Falcão Marques e Marta Falcão Marques.




quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Prefiro uma dose de cicuta.

Se for uma vida monossilábica e seca que me é servida, prefiro uma dose de cicuta.
Se forem palavras soltas e turvas, prefiro uma rajada de vento.
Se for para me engolir a seco, prefiro que me cuspam,
Se forem para me mastigarem, que me vomitem.
Se for para me acorrentarem, que eu seja solta, sem corda e desgovernada.
Se for para não dançar, prefiro 6mg de Rivotril e um possível coma.
Se for para não ser simples, leve e ver o sorriso dos meus queridos, que me arranquem os olhos.
Se for para não me expressar em cores, que eu via para sempre em mundo preto e branco.
Se for para eu ser fardo, cruz, que me desistam no calvário.
Prefiro uma dose de cicuta.