segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Carta às Flores




Sei bem que cheguei em 1987, quando vocês estavam no auge dos seus 5 e 7 anos e para confundir a cabeça de vocês. Mãe teve que se dobrar em três, vovó e vovô haviam partido para Portugal e de lá não voltaram mais.
Sei bem que perturbei o sono de vocês com meu choro expressando fome e fraldas sujas. Sei que em alguns momentos pai e mãe deram mais atenção ao bebê. Sei que vocês me fizeram de boneca, me ensinaram palavras, rabisquei capas de discos de vinis da Xuxa e destruí milhões de bonecas. Desde pequena era assim: não quero, não gosto, não tá direito.
Sei bem que quando fui crescendo, fui birrenta, queria ver o canal que eu queria, o chocolate mais gostoso da caixa de bombons que mãe abria pra dividir entre a gente e chorava de medo quando vocês demoravam para me buscar na escola.
Sei bem que, empatei os seus primeiros namoricos, fazendo perguntas insolentes, ficando no computador por horas e não deixando vocês a vontade para falar de coisas que uma pré adolescente não poderia/devia ouvir.
Sei bem que, achavam minhas roupas esquisitas, meu jeito estranho, minhas manias estranhas de magreza, estranhavam meus estudos exaustantes em inglês e que a ideia maluca de que "jamais teria um namorado, pra quê, eu hein!"
Sei que fiz dezoito e me achei mulher, maior, suficiente e madura. Fiz o que quis, nao ouvi, gritei, rebati. Fiz vocês chorarem. Fiz vocês sorrirem. E sim, voltamos a nos embolar em uma cama só, uma acordando a outra com montinho.

Sei bem que hoje, ainda sou aquela que vocês nunca devem esquecer o choro de fome, fralda suja e cólica. Sei bem também que hoje, sou uma mulher que vocês se orgulham e dou desgosto. Sou a que surpreende com ideia, moda e meta maluca. Sim, eu tive namorado. Sim, eu sou esquisita, ainda. Sim, obrigada por falarem que eu sou a melhor em muitas coisas. Muitas. Por enxugarem minhas lágrimas e dizerem que sim, eu posso. Não, não vou cair. Obrigada serem meu colchão protetor. Meu banho morno, meu chá, minha cama aquecida, por serem além de irmãs do mesmo sangue, serem a extensão de mãe.

"Pra não dizer que não falei das flores", às minhas Flores: Hosana Falcão Marques e Marta Falcão Marques.




Um comentário: