quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Generosos com os outros, só se somos conosco.

"Ser mulher é para Sabina uma condição que ela não escolheu. Aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou como fracasso. Diante de uma condição que nos é imposta, é preciso, pensa Sabina, encontrar a atitude certa. Parecia-lhe tão absurdo insurgir-se contra o fato de ter nascido mulher quanto glorificar-se disso." - A Insustentável Leveza do Ser (Millan Kundera)

Percebo isso quando me vejo fazendo/agindo como eu gostaria/faria. Ser mulher, algumas vezes, nos impõe algo de que devemos fazer sempre algo para agradar alguém ou para aparentarmos aceitos.
Eu prefiro nadar contra essa maré, que creio eu, não exista tanto assim. Sendo que nadar contra maré, ás vezes, muita gente acha que é ser "polêmico" - aí, cabe ao leitor julgar o que é polêmico ou não.
Um absurdo uma mulher ir a um bar sozinha e tomar uma cerveja? Um absurdo uma mulher ir a um museu no Centro do Rio pela tarde? Um absurdo tomar um café, ir ao cinema ou até mesmo comer pipoca aos domingos assistindo filme? 
"Coitada...olha..sozinha." - olhar de um casal piedoso na moça em um shopping. Casal esse que vive de aparências, pois por trás daquela blusa polo e do saltinho da moça há um mar de traições, desrespeitos e enganos.
"Não é possível que uma moça esteja sozinha!" - homem achando que mulher anda com perna de homem alheio.
"Não é possível que não esteja saindo com ninguém!" - amiga revoltada, achando que é necessário estar de caso com alguém para ser feliz.

Sou feliz com minha companhia. Desde muito novinha, eu gostava de ir à lugares e fazer coisas sozinha, que convencionalmente meninas da minha idade iam com amigas. Pai dava um dinheirinho a mais para comprar um tênis e uma roupinha a mais? Lá ia Kassia, com 14 anos, sozinha e curtindo sua companhia.
"Você vai sozinha?"
"Você moraria sozinha?"
"Ah, não fico em casa sozinha!"
"Você almoça sozinha?"
Por tempos, confesso que me vi como um bicho estranho. Mas hoje, sei que tenho a virtude de gostar de mim e do meu respirar, tomar um café imersa em meus pensamentos, chegar em casa do trabalho e ler um livro à meia luz da luminária e fazer compras sozinha. Sim, sou rodeada de bons amigos, daqueles que enxugam minhas lágrimas quando vemos monstros que nos deixam com medo. Eles estão sempre comigo, quando podem e quando podemos e eu com eles. Mas devo ser agradável a eles por quê, primeiro, eu soube e sei agradar a mim mesma. Tento ser generosa comigo, para que sejam generosos comigo. Se faço tudo que o meu eu gosta, com certeza serei a pessoa mais agradável desse mundo aos meus amigos e entes amados.

"Viver, intensamente, é você chorar, rir, sofrer, participar das coisas, achar a verdade nas coisas que faz. Encontrar em cada gesto da vida o sentido exato para que acredite nele e o sinta intensamente."
Leila Diniz


11 comentários:

  1. Muito bom texto. Infelizmente é por aí mesmo!

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    1. Felizmente! É uma verdade que muitos não sabem ou não se deram conta. O mundo seria melhor se todos fossem assim...

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  2. Simplesmente maravilhoso!!!! Parabéns!!!!

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    1. Obrigada Mariana, aqui é o espaço que exponho minha sinceridade pura e crua! :) Obrigada pela visita, visite-me mais vezes! :)

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  4. Bom, vc sabe que eu sou suspeita em falar, mas insisto, rsrsrsrs: Maravilhoso, como sempre!
    Concordo plenamente com suas palavras. Temos que nos amar, acima de tudo, mesmo parecendo egoísmo de nossa parte. Porém, se não gostarmos da gente, como podemos passar sinceridade nas nossas amizades?
    Lindo Kassia. Profundo, sincero, verdadeiro!!!

    Bjus!

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    1. Exatamente aonde quis chegar, Patrícia. Leila Diniz, por exemplo, viveu em uma época complicada onde mulheres eram reprimidas e uma simples foto grávida na praia causou polêmica. Ela nadava contra a maré daquela época triste, de mulheres tristes e fazia o que queria e achava bom, sem se preocupar com os outros. Segundo relato de amigos, ela era uma pessoa extremamente generosa. Por que se preocupava em primeiro lugar, em agradá-la.

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  5. Kassinha, vc sabe que as vezes vc escreve muita coisa pelo qual tbm passei e passo. As vezes nossa solidão é a nossa maior companheira, até pq sempre fomos assim. O silêncio de nossos quartos na nossa adolescência, o refúgio de uma mente criativa. Essa é sua essência, nunca mude. Sempre evolua. Te amo <3

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    1. Pois é, solidão por vocação! Uma solidão que hoje considero um privilégio, através dela pude crescer, através de lágrimas que secaram sozinhas e ouvindo minha voz interior.

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  6. Sim pessoal, esse texto foi refletindo a nossa auto descoberta, primeiro. Se não descobrimos nossa essência, não seremos essência para com o próximo. Não no sentido egoísta. Mas de nos entendermos e sabermos quem somos nós de fato.

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