segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Em boca fechada não entra mosca.



Nasci um ser tímido ao extremo. Tinha tanta dificuldade interpessoal que chegava ao ponto de me esconder quando chegava visitas de primos e tios em minha casa. Escondia a cara em qualquer saco de pão que encontrasse. Minha mãe dizia até que eu ficava sem respirar. Chorava, berrava. E jeito era me colocarem para dormir e não estragar o domingo da família. Todos foram lá ver a caçula. "Tão mocinha!", "Caiu o primeiro dente". Tão histérica.
Me tornei algo referente a um bicho do mato, que não conseguia comprar balas no tio da esquina e nem dizer que estava com dúvidas para a tia de matemática. Falava quase nada. Mas logo na segunda semana de aula, me misturava com a banda podre do primário. Desde então, não me esqueço até hoje de um grito que uma professora que, com certeza, se arrependeu amargamente de servir ao magistério. E era para que eu parasse de falar. O anos se passaram, me tornei uma adolescente estranha com cara de adulta, uma adulta esquisita com cara de criança e minha profissão, bom, isso é um capítulo a parte.
Falo de mais ou falo de menos. Ou eu me isolo ou me exponho num circo. Ás vezes falo pouco o que deveria falar muito. E falo muito o que serviria em apenas uma palavra, frase ou resmungo qualquer. Tantas vezes me arrependo de não ter falado o que precisava. E tantas outras me arrependo de ter falado meia hora de coisa indiferente.
Se arrepender do não dito. Aquele momento em que você pôde falar, mas falar mesmo, falar de verdade e com verdade, sem imposições de voz ou pontuações adequadas. Falar e deixar o choro sair soluçado, gritado, doído. Ou então ter deixado tudo sair fácil, maleável, esguio.
E quando você ouve o som dos grilos..."O que foi que eu fiz?" Não era tudo bem melhor e tão convencional deixar pelo não dito? Tão correto? Tão medido, tão racional. Por que em boca fechada não entra mosca, muriçoca, besouro, borboletas, estrelas e nem bolhas de sabão.

Pronto, falei.

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