Nasci um ser tímido ao extremo. Tinha tanta dificuldade interpessoal que chegava ao ponto de me esconder quando chegava visitas de primos e tios em minha casa. Escondia a cara em qualquer saco de pão que encontrasse. Minha mãe dizia até que eu ficava sem respirar. Chorava, berrava. E jeito era me colocarem para dormir e não estragar o domingo da família. Todos foram lá ver a caçula. "Tão mocinha!", "Caiu o primeiro dente". Tão histérica.
Me tornei algo referente a um bicho do mato, que não conseguia comprar balas no tio da esquina e nem dizer que estava com dúvidas para a tia de matemática. Falava quase nada. Mas logo na segunda semana de aula, me misturava com a banda podre do primário. Desde então, não me esqueço até hoje de um grito que uma professora que, com certeza, se arrependeu amargamente de servir ao magistério. E era para que eu parasse de falar. O anos se passaram, me tornei uma adolescente estranha com cara de adulta, uma adulta esquisita com cara de criança e minha profissão, bom, isso é um capítulo a parte.
Falo de mais ou falo de menos. Ou eu me isolo ou me exponho num circo. Ás vezes falo pouco o que deveria falar muito. E falo muito o que serviria em apenas uma palavra, frase ou resmungo qualquer. Tantas vezes me arrependo de não ter falado o que precisava. E tantas outras me arrependo de ter falado meia hora de coisa indiferente.
Se arrepender do não dito. Aquele momento em que você pôde falar, mas falar mesmo, falar de verdade e com verdade, sem imposições de voz ou pontuações adequadas. Falar e deixar o choro sair soluçado, gritado, doído. Ou então ter deixado tudo sair fácil, maleável, esguio.
E quando você ouve o som dos grilos..."O que foi que eu fiz?" Não era tudo bem melhor e tão convencional deixar pelo não dito? Tão correto? Tão medido, tão racional. Por que em boca fechada não entra mosca, muriçoca, besouro, borboletas, estrelas e nem bolhas de sabão.
Pronto, falei.
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